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Thursday, December 20, 2007

Movimento emergente – EUA e Brasil

Tenho nestes últimos dias sentido um grande desejo de escrever acerca do movimento da igreja emergente, contudo, não tenho conseguido colocar o que eu quero em letras e palavras. As vezes sinto que estou empacado em minhas idéias, não sei bem explicar o que é isto. Porém, hoje eu acordei disposto a rapidamente escrever alguma coisa sobre este assunto (este post será o primeiro de muitos que ainda escreverei sobre este tema).

Tenho lido bastante, principalmente acerca deste movimento novo aqui nos EUA da “emerging church,” que em Português significa “igreja emergente.” Não somente tenho lido sobre o movimento, mas principalmente, tenho lido o material que este movimento tem produzido.

O livro que estou lendo é o “A mensagem secreta de Jesus,” do Brian McLaren. Também já li o “Velvet Elvis” do Rob Bell e o livro “Sem Barganhas com Deus” do Caio Fábio, além de vários posts em websites que este movimento publica (tanto em Português como em Inglês).

O título do livro do Brian na minha opinião é apenas para aguçar a curiosidade das pessoas, pois, o seu conteúdo é extremamente rico e sem mistério. Ou seja, a mensagem secreta que o autor apresenta não tem nada de secreta. Contudo com a deturpação do significado do Evangelho em nossos dias, até mesmo a mensagem pública e aberta de Jesus pode se tornar secreta para esta nossa geração. O que eu quero dizer com isto? Bem, o que estou querendo dizer é que hoje em dia está tão difícil ouvir uma mensagem que tenha alguma semelhança com o Evangelho de Jesus, que a mensagem de Jesus tal qual está escrita na Bíblia se tornou ou está se tornando um mistério, pois, estamos nos distanciando mais e mais dela. É triste mas é verdade!

Contudo, o que o livro nos ensina é o Evangelho (claro que segundo a visão do autor) de Jesus. É interessante que ao mesmo tempo que o livro recebe várias críticas pelo seu título, aquele que tiver a coragem de lê-lo e não apenas criticar a sua capa, irá perceber que ele é bastante ortodoxo em sua teologia e bastante prático em sua proposta. Esta seria a tese do livro:

O Reino de Deus não é algo para ser experimentado apenas após a nossa morte e ressurreição, muito pelo contrário. A mensagem radical de Jesus (secreta segundo o autor) acerca do Reino de Deus é que este Reino é para o aqui e agora e não para um futuro distante, transformando vidas e revolucionando o mundo através da mensagem e da prática do amor.

O que há de mais ortodoxo do que isto? Agora, outros podem não querer ler o livro por causa do autor. Na verdade isso também seria ignorância. O Brian esteve em meu seminário este ano. Ele falou rapidamente após o almoço sobre o seu próximo livro (“everything must change” que quer dizer “tudo tem que mudar”) e sobre o estado atual da igreja. Falou sobre a massiva evasão dos jovens das igrejas (principalmente das históricas), e mostrou-se bastante preocupado com o futuro da igreja e sociedade. Em momento algum ele me pareceu está trazendo uma nova mensagem. Contudo, ele se mostrou bastante sensível às mudanças da sociedade, o que muitos chamam de Pós-Modernismo. Sim, o Brian é um cristão Pós-Moderno e isso talvez assuste a igreja que em muitos lugares está estancada no Pré-Modernismo e Modernismo, ou como em alguns casos no Brasil, na Idade Média. Talvez a metodologia usada pelo Brian e outros “emergentes” é que desagrade a tantos. Ou talvez seja a popularidade que este movimento está ganhando aqui dentro dos EUA que preocupe os “donos” da igreja. Tem um outro “emergente” bastante popular chamado Rob Bell que está até sendo considerado o novo Billy Graham, por causa das multidões que vão ouvir a sua mensagem.

Bom, tudo isto está acontecendo nos EUA, e o Brasil, como está? Sim, pois o Brasil também tem o seu movimento emergente que mesmo não tendo suas raízes com o movimento Americano, compartilha muita coisa em comum. Creio que o precursor da igreja emergente Brasileira (se é que podemos chamá-la assim, uma vez que o movimento no Brasil é independente) é o tão conhecido pregador e pastor de uma multidão virtual através do seu site, Caio Fábio. O Caio dispensa comentários, pois é um homem bastante conhecido no meio evangélico e até mesmo secular Brasileiro. O movimento “O Caminho da Graça” como é chamado no Brasil é tão pós-moderno que surgiu através do site do próprio Caio. Através de conselhos e textos publicados no site, mais e mais pessoas passaram a contra suas histórias de horrores “gospeis.” Mais e mais pessoas passaram a se aproveitar do anônimato que o site proporcionava e das sábias palavras de consolo recebidas pelo Caio e passaram a “rasgar o verbo,” ou seja, contar tudo o que eles passavam dentro da igreja e com detalhes. Portanto, vimos, pastores homossexuais, esposas de pastores lésbicas, traições de todos os tipos entre líderes das igrejas, roubalheira, doenças psicossomáticas das mais variadas, legalismo, sede de poder, e muito mais coisas que me levaria mais de uma página apenas para descrevê-las. Porém, o que acontecia de mais danoso eram as máscaras que essas pessoas usavam em suas igrejas. Muitos querendo levar vantagem devido as suas posições de liderança cobravam (assim como os fariseus dos tempo de Jesus) dos membros coisas que eles mesmos nem de longe praticavam. Muitos destes líderes estavam podres por dentro, porém, querendo se passar como santarrões para a congregação.

O que aconteceu foi que depois, não somente os líderes, mas também as demais pessoas das congregações passaram a escrever, revelando assim a ferida exposta e apodrecida em que se encontrava a igreja brasileira. Foi daí que surgiu o movimento “O caminho da graça” que é paralelo à igreja emergente dos EUA na minha opinião. Porém da mesma forma que o Brian McLaren não é o único emergente dos EUA, o Caio também não é o único líder deste movimento de insatisfação com o modelo atual da igreja no Brasil - ao qual vou passar a chamar de movimento de desconstrução. Outros pastores se mostraram cansados e insatisfeitos com o que se tornou a igreja de Jesus em solos brasileiros. Pastores como o Ricardo Gondim e Ed René Kivitz também fazem parte deste movimento maior que quer uma mudança radical através da pregação Bíblica, porém, livre de dogmas e paradigmas. No Brasil, contudo, não há uma unidade de movimento ou teologia do movimento, mas apenas uma unidade de insatisfação e desejo de mudança.

A palavra chave nos dois movimento (dos EUA e do Brasil) é descontrução. Aqui nos EUA a igreja emergente fala bastante em descontrução de paradigmas. Sites como “opensourcetheology.net,” “presence.tv” dos EUA e “caiofabio.com,” do Brasil, tratam deste tema abertamente. Essa desconstrução se dá principalmente nas áreas onde a história da teologia cristã conseguiu solidificar o seu ensino de tal forma, que ele é passado entre gerações através de herança genética. Bom, eu posso até está exagerando aqui, mas que alguns dogmas da igreja são pedrificados e difíceis de serem debatidos devido a sua sacralização e rigidez, isso é verdade. Em algumas instâncias, a desconstrução se dá no sentido do diálogo para o estabelecimento da verdade através da participação da comunidade. Diálogo, também é uma palavra forte deste movimento. O site “presence.tv” diz o seguinte em sua apresentação:

“… o que você vai encontrar nas páginas que seguem é realmente como uma conversação… uma conversação que basicamente tenta lidar com transformação…Isto é o que a nossa comunidade foi montada para fazer – pergunte, considere, discuta, pese os assuntos… uma coisa você descobrirá sobre nós quase que imediatamente é que nós realmente somos bastante abertos para diálogos, mas não muito para debates. Debate não leva a lugar algum, enquanto diálogo constrói relacionamentos maravilhosos.”

Esse diálogo aberto e honesto entre as pessoas, tem levado à construção de uma nova teologia, a “teologia emergente” - esta abertura para diálogo, contudo, é característica do movimento nos EUA apenas. Pelo fato de se enfatizar o diálogo, esta teologia ainda está em processo de construção e pelo que parece, ela nunca será rígida e definitiva, devido à natureza do movimento.

No que diz respeito à minha opinião, eu realmente aprecio esta nova proposta - como um todo - uma vez que ela traz novamente o Evangelho para a nossa vida diária. Vivemos no século XXI e não há nada que possamos fazer para mudar isto. Se a igreja insistir em viver no século XVI ou até mesmo anterior a isto (como no Brasil), será muito difícil levar a mensagem de Jesus para as pessoas HOJE. Brian McLaren falou em meu seminário que as únicas duas instituições que ainda estão no modernismo são as forças armadas e a igreja. O que acontece é que as pessoas vivem imersas no pós-modernismo durante a semana inteira (em seus trabalhos, em seus lazeres, e em suas casas) porém, quando chega o fim-de-semana, se elas frequentam alguma igreja, elas fazem uma viagem ao passado e muitas sofrem nesta mudança um tipo de “choque cultural.” Isso tem levado ao esvaziamento de muitas igreja aqui nos EUA. No Brasil, contudo, o movimento de desconstrução iniciado pelo Caio Fábio, reage não somente ao modernismo que insiste em permanecer na igreja, mas principalmente à mescla de "eras ou tempos" dentro da igreja. As igrejas neo-pentecostais são o maior exemplo disto. Elas misturam todo o tipo de crença pagã pré-histórica, com um misticísmo medieval e um apelo capitalista pós-moderno. Com tudo isto misturado, não é difícil perceber a corrupção que é necessário fazer na mensagem do Evangelho para se conseguir o fim proposto.

Na verdade, estamos vendo a história ser formada diante dos nossos olhos. Todo movimento da igreja surgiu em reação à alguma coisa errada dentro dela mesma. Portanto, assim como a Reforma Protestante surgiu em reação à venda de indulgências e vários outros tipos de corrupção dentro da igreja católica. Assim como o movimento Pietista surgiu para combater a “ortodoxia morta” dos Luteranos pós-Lutero. Assim como o movimento Puritano surgiu para combater a “via-média” da Rainha Elizabeth I dentro da igreja da Inglaterra, assim também acontece com movimento Emergente dos EUA e de Desconstrução do Brasil. Ambos reagem à situação atual da igreja. Ambos reagem ao fundamentalismo e oportunismo religioso. Ambos trazem em si uma proposta para uma mudança radical de paradigma e de ação.

Bom, termino por aqui. Sei que ainda tem muito a ser escrito e avaliado sobre este tema e sobre o que tem acontecido com a igreja em geral. Contudo, estou feliz que homens e mulheres tem abertos os olhos para o estado atual da igreja e tem buscado mudanças. Estou feliz que mesmo com a crítica dos Fundamentalistas religiosos e outros que levam vantagem sobre o estado decadente da igreja, o movimento de renovação e de mudança está acontecendo e influenciando a muitos. Estou feliz de poder participar deste momento histórico na igreja de Jesus.

Que Deus nos abençoe a despeito de nossos erros e acertos,

Rodrigo Serrão

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