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Friday, December 29, 2006

Pequeno comentário sobre meu ano de 2006

Parece piada ou brincadeira, porém não é. O ano acabou de novo. Talvez ainda mais rápido que o ano passado. Tudo muito rápido, acelerado, impaciente. Parece até que Deus está com pressa.

O ano de 2006 para mim foi muito bom. Posso dividí-lo em antes e depois da minha viagem à Asia. Não que minha vida tenha mudado significativamente depois que cheguei da Asia, mas que os dois semestres do ano foram bem diferentes e com alvos e dificuldades também diferentes. Antes, ou seja, no primeiro semestre, eu tive que me empenhar no processo de aplicação e seleção para a viagem missionária. Também tive que buscar levantar a grana necessária. Contudo, o dinheiro não foi levantado completamente até eu voltar da viagem. Em relação às minhas aulas, eu diria que foram boas. Não foi tão difícil completar o semestre com notas boas.

Por conta de que os preparativos para a viagem foram tranquilos, o dinheiro não era um “big deal,” pois eu tinha a liberdade para continuar juntando quando voltasse, e mesmo assim teria dinheiro para levar comigo. Também por conta de que as aulas não me deram tanto trabalho, ou seja, consegui terminar tudo sem o medo de ter tomado apenas notas ruins, eu diria que o primeiro semestre foi tranquilo, calmo, mesmo com pequenos contratempos.

A segunda parte do ano, porém, foi o oposto da primeira. Minhas aulas, me deram muito trabalho, literalmente. Tive que escrever muitos trabalhos, um pouco acima da média que estou acostumando. No meio deste processo de ter que estudar e claro, trabalhar, eu resolvi fazer uma viagem com um duplo propósito. Resolvi estudar no Brasil e fazer um “estágio” em uma igreja lá também. O problema foi que para cada uma dessas atividades, eu teria que aplicar e preparar todo o plano e material em dois departamentos totalmente diferentes daqui da Baylor. O programa de “study abroad” me deu a oportunidade de estudar na UFMG e o programa de “mentoring” me levou a contactar a Igreja Batista do Barro Preto para “estagiar” lá. Para cada um desses programas eu tive uma série de papéis para preencher, uma quantidade enorme de emails para enviar e receber. Além de um plano de estudo, conversa com professores e o mais difícil até agora, levantar uma quantia suficiente para que eu possa me sustentar no Brasil durante um semestre apenas estudando. Tudo isso somado a um dos mais difíceis semestres em termos acadêmicos, fizeram do segundo semestre de 2006 uma grande dor de cabeça para mim.

E para completar com chave de ouro, tem também o episódio das passagens aéreas que foram compradas, porém depois tiveram que ser mudadas as datas. Esse fato também contribuiu para o grande pesadelo do segundo semestre de 2006, pois me consumiu grande energia para conseguir ajustar datas e vôos e classes, tudo do jeito que eu queria (e podia).

Ainda tem algumas pendências de 2006 que irão ser transferidas para 2007, como por exemplo a questão do dinheiro. Contudo, como disse acima, Deus está com pressa e o tempo está passando a 100 por hora. Para situações como a minha, neste segundo semestre de 2006, quanto mais rápido o tempo passar melhor. E de fato, quando olho para trás, não acredito que fiz tanta coisa em apenas 4 meses.

O importante agora é agradecer a Deus por tudo. Pelas lutas, dificuldades, oportunidades, condições para fazer o que fiz, faço e farei.

Quero que fique bem claro que não estou reclamando a Deus pela vida que tenho e que levo. Sei que sou um privilegiado e que muitos gostariam de estar na minha situação. Estou apenas usando o meu blog para escrever de forma resumida a minha percepção dos dois semestres do ano de 2006.

Me alegro também pelo fato de que vou passar o primeiro semestre de 2007 no Brasil. Apenas queria que durante este tempo, Deus tirasse o pé do acelerador um pouquinho e o tempo não passasse tão rápido.

Rodrigo Serrao

Tuesday, December 19, 2006

País apodrecido, igreja insípida

Um texto de Robinson Cavalcanti

Metade dos escândalos que explodiram no Brasil teriam provocado revoluções em qualquer outra parte do mundo. Apesar do sensacionalismo da imprensa, dos gritos hipócritas das oposições e da “cara de pau” das situações, a rotina nacional não sofreu alteração. As opções eleitorais foram na direção do “rouba, mas faz”. Afinal, ética nunca foi o forte da Terra de Santa Cruz, desde o seu “descobrimento”. Ninguém está chateado com a desonestidade dos de cima; o aborrecimento é por não se estar lá também.

Vianna Moog, no capítulo “Ética e Economia”, de seu clássico Bandeirantes e Pioneiros, mostra que fomos um país sem mecanismos sociais de controle, sem sacerdotes e sem sogras. A primeira missa foi celebrada, e, depois, houve duzentos anos de escassos sacerdotes e deficiente catequese, com uma fé mística, mágica e folclórica. Os varões que deixaram em Portugal as antigas famílias (sogras, inclusive) se uniam, assimétrica e pluralmente, com as ameríndias e as africanas, de paternidade ausente, nas entradas e bandeiras. A motivação colonizadora era o enriquecimento rápido, com o mínimo de trabalho e por quaisquer meios, pois “além do Equador não há pecado”. Os benesses reais, a nobreza cartorial, as heranças e as botijas substituiriam o trabalho orgânico.

O Estado surgiu antes da nação e impôs os governantes e as leis, com os quais o povo não se identificava nem aos quais se sentia obrigado a obedecer, antes a burlar. Imperavam o escravismo, a servidão, o capitalismo selvagem, a educação ornamental e beletrista, o poder, a propriedade, a renda e o saber concentradíssimos. E hoje queremos, como resultado, um país justo, pacífico e honesto?

No país do pistolão, do nepotismo e do compadrio, as palavras de ordem são: “Para os parentes e os amigos, tudo; para os inimigos, a lei” e “Você sabe com quem está falando?”. A “lei” é o levar vantagem em tudo. No lugar de “Ordem e Progresso”, já se afirmou, deveríamos ter no centro da nossa bandeira: “Sombra e água fresca”, ou: “Trabalho honesto é como o crime: não compensa”. Um ilustre membro do Poder Judiciário no Nordeste, quando questionado por uma jornalista sobre o excesso de parentes lotado em seu gabinete, saiu-se com esta pérola: “Minha filha, quando Deus quis salvar o mundo, por acaso mandou um estranho ou um conhecido? Ele mandou o filho dele”.

Nas campanhas presidenciais de 1989 e 1994, rodando por este Brasil, ouvi a raiva e a frustração do povão contra essa idéia de “justiça social”. A natureza das coisas é uma sociedade de privilégios, desde que se esteja no andar de cima. Algo contrário seria frustrar sonhos, como o de um dia ganhar na loteria ou no jogo do bicho. Filho de vereador da UDN, convivi com o lacerdismo. Moralismo por aqui empolga classe média. Os de cima e os de baixo, em suas respectivas alienações, “não estão nem aí”. O “homem cordial” ou o “cabra macho”, lúdicos, eróticos e espertos, estão mais para a ideologia “futebol, cachaça e mulher”. O resto é retórica, imposição de gringos ou fanatismo, pois, “ninguém é de ferro”. Sem chances, emigra-se para — suprema ironia e humilhação — fazer faxina.

O protestantismo de imigração, de alemães, suíços, ingleses, fechado em si, teve escasso impacto na cultura nacional. O protestantismo de missão aportou com a crença em um “destino manifesto” de trazer uma fé superior, o progresso e a democracia. A luta pela Abolição e pela República, pelo Estado laico, pela instrução universal, mista, profissionalizante, com educação física e esportes, o ensino do valor do trabalho, da sobriedade, da poupança, a valorização da família, o envolvimento em movimentos sociais, como o sindicalismo, fazem parte de um rico legado hoje esquecido e rejeitado. A Guerra Fria, a Ditadura Militar, o neo-fundamentalismo nos empurraram a heresia “crente não se mete em política”, nos anos 70.

O pentecostalismo que nos chegou não foi o da ala negra da rua Azuza, com sua visão social, mas o da ala branca, com seu isolacionismo, sua ascese extra-mundana e sua escatologia pré-milenista pessimista. Com o passar do tempo, permaneceu apenas o conceito de pecado individual e de uma ética individual da santidade negativa (não fazer o mal) — e não da santidade positiva (fazer o bem) — legalista, moralista, sem os conceitos de pecado social e pecado estrutural, e ética social. A teologia da libertação, racionalista, enfatizaria esses últimos às custas dos primeiros, e, por fim, a teologia liberal pós-moderna, relativista, e amoral, negaria ambos. A “batalha espiritual” reforçaria a alienação e a teologia da prosperidade seria a face religiosa do neoliberalismo capitalista. O neo-pós-pseudo-pentecostalismo não prega conversão e santidade, mas neo-indulgências e sessões de descarrego. Do novo nascimento ao sabonete de arruda tem sido um longo caminho, por onde passam os sócios “evangélicos” dos escândalos da República. Uma igreja insípida não salga nem salva um país enfermo.

Falhou o evangelicalismo? Não. Falta-nos evangelicalismo!