Estou prestes a voltar ao Brasil. Em aproximadamente duas semanas, estarei me despedindo de pessoas muito amadas que vivem aqui nos EUA e estarei “heading back” para o País que sou cidadão. Contudo, esta mudança que estou prestes a fazer não será fácil. Após viver aqui por pouco mais de 5 anos, eu me considero bastante adaptado à cultura e aos costumes locais. Me adaptei ao sistema de ensino, ao modo metódico de pensar e de raciocinar. Me adaptei à organização, à pontualidade, à limpeza tanto das ruas quanto dos prédios públicos em geral. Me adaptei a dirigir em grandes e espaçosas autopistas, me adaptei a um sistema de polícia que funciona, me adaptei a segurança pública. Também me adaptei a pagar barato por eletrônicos, carros, fast-food e pagar caro por qualquer tipo de serviços prestados por profissionais liberais. Me acostumei a pegar sub-empregos de poucas horas semanais e mesmo assim ganhar um dinheiro bom. Me acostumei a falar, ler, e escrever em inglês. Me acostumei a ver pessoas de quase todo o mundo (falando em seu próprio idioma). Me acostumei a ver o drama do imigrante ilegal (principalmente mexicanos). Me acostumei a ver bons (humildes, tementes a Deus, respeitadores, piedosos, trabalhadores) Americanos e maus (arrogantes, preconceituosos, safados, metidos, vagabundos) Americanos. Me acostumei a ver igrejas e mais igrejas de toda e qualquer denominação. Como também a ver representantes de quase todas as grandes e pequenas religiões do mundo. Me acostumei a participar em uma igreja de imigrantes onde a maioria eram indocumentados e consequentemente ilegais no País, mas que de algum modo isto não trazia culpa e nem era tratado como pecado. Me acostumei a ir ao cinema de um dólar e de alugar filmes em máquinas nas farmácias e walmarts por também um dólar. Aliás, também me acostumei ao walmart e ao dólar. Me acostumei a viver em casas que não abrem as janelas, mas que tem ar-condicionado central para o verão e aquecedor central para o inverno. Me acostumei a sentir muito frio no outono-inverno e muito calor na primavera-verão. Me acostumei a ver o desperdício do Americano com energia, comida, bebida, e tudo mais que você possa imaginar. Me acostumei (mas com muita indignação) a ver pessoas consumistas e materialistas que só vivem para acumular coisas. Enfim, me acostumei a ser um imigrante brasileiro nos EUA que observava o comportamento de todos ao meu redor. Inclusive, observei o meu próprio comportamento e as minhas próprias mudanças e minhas próprias adaptações à sociedade Americana.
Agora é voltar ao Brasil. Pedir a Deus que eu me re-adapte à minha nação. Que eu evite as comparações entre os dois países. Que eu possa guardar em mim a mentalidade que colocou os EUA no primeiro-mundo, sem que com isso eu subestime ou menospreze ações que insiste em manter o Brasil no terceiro-mundo. Eu quero voltar e ver um Brasil diferente, um Brasil mais justo, menos corrupto, mais organizado, menos pobre, mais gerador de oportunidades para todos, menos castrador de sonhos. Espero voltar para o Brasil e ter gosto e prazer pelo meu País. Espero voltar e ver que as pessoas estão mais solidárias, mais educadas, que o trânsito está mais organizado e que o povo está mais conscientes do seu papel nas transformações sociais.
Eu oro a Deus para que abençoe ao Brasil e a mim que retorno ao lar.